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Netflix investe alto em ‘The Electric State’, uma das produções mais caras da história

A Netflix continua sua estratégia de investir pesado em produções originais, mesmo que isso resulte em novos reajustes de preços para seus assinantes. O mais recente exemplo desse compromisso com grandes orçamentos é The Electric State, uma adaptação da graphic novel distópica de Simon Stålenhag, que custou impressionantes US$ 320 milhões, colocando-o entre os filmes mais caros já feitos.

O longa é dirigido por Joe e Anthony Russo, cineastas experientes em megaproduções de Hollywood. Responsáveis por Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato, os irmãos demonstraram habilidade em lidar com narrativas complexas, elencos gigantescos e efeitos visuais de ponta. Agora, tentam repetir a fórmula com The Electric State.

O elenco conta com diversos nomes conhecidos do universo Marvel. Chris Pratt (Guardiões da Galáxia) interpreta um mercenário carismático, acompanhado de um robô dublado por Anthony Mackie (Capitão América: Admirável Novo Mundo). A equipe de roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, o editor Jeffrey Ford e o compositor Alan Silvestri também retornam para trabalhar com os irmãos Russo.

No entanto, nem mesmo a reunião de tantos talentos garante que o filme consiga se destacar. A direção limitada dos Russos e suas escolhas criativas sufocam o potencial do material original. A construção de mundo misteriosa e envolvente de Stålenhag é rapidamente substituída por uma montagem expositiva logo no início do filme. A trama se passa em uma versão alternativa dos anos 90, onde robôs animatrônicos se rebelaram contra os humanos, levando a uma guerra devastadora. A virada do conflito acontece quando o magnata da tecnologia Ethan Skate (Stanley Tucci) desenvolve um exército de drones humanoides controlados por interfaces neurais, que garantem a vitória da humanidade.

A narrativa principal acontece anos depois da guerra. Os robôs sobreviventes foram confinados em uma área isolada do Novo México, chamada de “Zona de Exclusão”, enquanto a tecnologia de Skate se tornou parte do cotidiano da sociedade. O dispositivo Neurocaster se popularizou, permitindo que os usuários trabalhem remotamente e desfrutem do entretenimento em realidade virtual, mas ao custo de um estado de torpor.

Millie Bobby Brown interpreta Michelle, uma adolescente rebelde que perdeu a família em um acidente de carro durante a guerra. Ela vive sob a vigilância de um pai adotivo que a monitora por meio de drones e resiste ao uso obrigatório dos Neurocasters na escola.

A trama ganha impulso quando o robô de um antigo desenho animado, que fazia parte da infância de Michelle, passa a exibir a consciência de seu irmão Christopher (Woody Norman, C’mon C’mon), que todos acreditavam estar morto. Determinada a descobrir a verdade, ela embarca em uma viagem rumo à Zona de Exclusão, contando com a ajuda do contrabandista Keats (Chris Pratt).

O filme mistura ficção científica e nostalgia da cultura pop dos anos 90, mas se perde em um sentimentalismo exagerado. A ambientação aposta em referências a shoppings antigos e junk food, embaladas por versões melancólicas de clássicos do rock. Essa abordagem transforma o longa em uma jornada nostálgica previsível, que pouco acrescenta ao gênero.

O excesso de apelo comercial também incomoda, especialmente com a presença do icônico mascote Mr. Peanut, da famosa marca de manteiga de amendoim. Ele aparece negociando um tratado de paz com Bill Clinton em uma cena absurda que se torna ainda menos engraçada conforme o filme avança. Dublado por Woody Harrelson, o personagem se torna um dos líderes dos robôs na Zona de Exclusão, assumindo um papel inesperado como mediador moral da história.

Apesar do orçamento milionário e do elenco repleto de estrelas, The Electric State acaba preso dentro das limitações criativas dos irmãos Russo, entregando uma história que não consegue ir além de sua própria homenagem à nostalgia.