Entretenimento

Crítica de ‘Ground Zero’: Filme com Emraan Hashmi mistura patriotismo e dilemas morais em meio a tensões reais

O lançamento do filme Ground Zero coincidiu com um momento de extrema sensibilidade no subcontinente indiano, marcado por um ataque terrorista mortal em Pahalgam que deixou pelo menos 26 mortos. Apesar de a trama se passar na Caxemira do início dos anos 2000, o clímax do longa — uma operação noturna conduzida pela Força de Segurança de Fronteira (BSF) para desmantelar um esconderijo terrorista — dialoga diretamente com o clima atual do país. Essa coincidência pode até favorecer o desempenho do filme nos cinemas, mas também acaba obscurecendo parte de suas intenções narrativas, que envolvem nuances muitas vezes ignoradas em momentos de tensão como o atual.

O trailer já sugeria essa complexidade. Em uma das falas marcantes, o comandante da BSF Narendra Nath Dhar Dubey (interpretado por Emraan Hashmi) questiona: “A Caxemira nos pertence apenas como terra ou também como povo?”. A provocação se destaca especialmente diante das acusações e ameaças enfrentadas por cidadãos da Caxemira em outras regiões da Índia. Ao contrário de produções como The Kashmir Files ou Article 370, que assumem tons mais polarizados, Ground Zero se aproxima mais da proposta de Shershaah — um retrato patriótico, de abordagem direta, mas que ainda expressa alguma empatia pelas vidas locais envolvidas no conflito.

A história se baseia em eventos reais. Em 2001, Dubey foi designado para atuar em Srinagar, onde liderou uma missão que durou dois anos com o objetivo de capturar Ghazi Baba — um militante do grupo Jaish-e-Mohammed, acusado de ser o mentor do atentado ao Parlamento Indiano naquele mesmo ano. Após intensa investigação, Ghazi Baba foi localizado em uma casa segura no centro de Srinagar. A operação, realizada durante a madrugada, resultou em um tiroteio prolongado. Durante o confronto, o oficial Balbir Singh foi morto em combate. Em reconhecimento por sua bravura, Dubey foi condecorado em 2004 com a Kirti Chakra, a segunda mais alta honraria concedida pelo governo indiano em tempos de paz.

Ground Zero não é apenas um thriller de ação militar. Ainda que abrace o espírito patriótico, a produção busca refletir sobre o custo humano da guerra interna e levanta questões que ecoam além da tela. Emraan Hashmi entrega uma performance contida, mas intensa, contribuindo para um filme que tenta equilibrar ação com sensibilidade. Em um cenário onde a linha entre herói e vilão muitas vezes se confunde, o longa se esforça para manter um olhar crítico — mesmo que, por vezes, essa intenção seja ofuscada pelas circunstâncias do mundo real.